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CASTANHA, TRABALHO E CUIDADO - UMA GRAÇA, MÃE E AVÓ DE MUITOS.

Minha postagem publicada com o título “FUNERAL DA CASTANHA” teve uma declaração relevante de uma leitora de 77 anos, que em sua vivacidade sentiu-se afetivamente atingida para falar de sua infância, aprendendo a ser a companheira de trabalho na quebra e na seleção de castanhas na Usina que funcionava na Cachoeirinha, bairro de Manaus, entre os anos 1954 a 1958.

Vamos conhecer e nos encantar com sua história de vida e aventura?


A pequena Graça, aos 7 anos, seguia com a irmã, acompanhando a mãe para a Usina de Beneficiamento de Castanha, enquanto o pai trabalhava na antiga Manaus Harbour.


Ela conta que a mãe parecia vir fumegante com sua caixa de 10 litros de castanha cozida que os homens da fornalha tiraram dos tachos gigantes.


Cada mulher pegava seus lotes e ia descascar nas bancadas, mas cada uma tinha um pequeno instrumento que quebrava as castanhas e contabilizava a quantidade por produção. Enquanto isso, as crianças, debaixo da bancada, iam tirando os resíduos das cascas duras e as peles de proteção das amêndoas. Era trabalho de temporada, que coincidia com o tempo de férias escolares, entre janeiro e março.

 

A Graça conta que esse trabalho infantil, mesmo naquele tempo, já tinha os olhos do juizado, proibindo o que considerava como trabalho infantil. A Usina era apenas um dos trabalhos da mãe, que também montou uma alfaiataria de calças masculinas e, em outras horas, lavava as fardas dos militares da vizinhança. Uma vida dura, muito ocupada mas alegre. Nos finais da tarde, seus pais em frente da casa viam as crianças brincando.


A agraciada amiga cresce sempre estudiosa, torna-se funcionária de uma empresa de contabilidade, ganhando seu salário e a sua primeira filha, que se chamou Stella Luísa. Como mãe solteira, tornou-se “irmã da própria filha”, pois o registro do nascimento fora feito por seu pai, um peruano talentoso e de bem com a vida que se casou com uma mulher de Letícia e veio para o Amazonas trabalhar nos seringais do Rio Aripuanã.


A filha Graça escutava muito sua mãe contar as aventuras da vida, bem antes de vir a Manaus, nas terras de Aripuanã, Am, vivendo em muita proximidade cpm os indígenas, com os quais manteve admirável respeito.  Em Manaus, onde a Graça nasceu, o pai tornou-se uma pessoa importante para ela porque, trabalhando no porto de Manaus, ajudava os nordestinos que chegavam sem emprego e perdidos, com o intuito de começar a vida em Manaus.


E aí, seu velho pai se tornava benfeitor de tanta gente e dava um exemplo de vida generosa e atenta às necessidades dos migrantes e de demais necessitados. A Graça assumiu inteiramente a filha, que tendo nascido com problema cardíaco sério, precisava pelos menos de um cateterismo.  Encontrou, no médico que tratava a sua filha, um grande amigo que também era de sua igreja. Este, sabendo que a equipe do Dr. Zerbini estaria em Belém e que era o cirurgião do primeiro transplante de coração no Brasil, contactou-o e a enviou sem ônus até Belém, salvando sua filha, que se tornaria a mãe social pioneira das Aldeias Infantis, em 1994.


Graça casou-se na Igreja de Santa Rita, no próprio bairro onde morava, teve outras filhas, fez curso superior de contabilidade e avançou na vida sempre fazendo o bem, assumindo a criação e tornando-se mãe e avó de tantos outros que precisavam de proteção e do calor materno. Até aqui concluímos que a Maria das Graças viveu em ambientes de proteção, solidariedade e de gratuidade de afeto.


Permitiu, por bondade de Deus, que a corrente do bem acontecesse e deixasse marcas positivas na vida das gerações que cuidou. Além disso, ela fez questão de continuar a criar os filhos sociais da filha Stella após sua morte. Quase todos passaram a morar com ela e a repetir na vida deles a continuidade do DNA da bondade e do direito de viver e ser feliz como cidadão trabalhador. O marido, companheiro alegre e trabalhador, com quem viveu tantos anos e entendeu que a vocação da Graça era ajudar a cuidar dos “filhos” dos outros. Mulher dele, que se devotava com a simplicidade de uma heroína, sem mídia social e no anonimato, do jeito que Jesus dissera: “o que tua mão direita fizer, não saiba a mão esquerda”.   


A Graça não se decepcionou com a Santa Rita das Causas Impossíveis, onde se casou e que salvou tanta gente da peste na Europa, no século XVII.  Aceitou a morte do marido, em conformidade misteriosa da permissão de Deus, mas não deixou de criticar que a pandemia do COVID-19 poderia ter sido bem diferente e não ter deixado muitas crianças orfãos e muitas delas sem seus avós.




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