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JUCA MAGAL, UM ENTENDIDO DE GRUTA QUE CORREU PELO MUNDO.


Um idoso da Bahia tomou fôlego com os ares amazônicos e me falou das grutas da sua terra natal: Bom Jesus da Lapa. Não teve a alegria de possuir uma canoinha como bicicleta dos rios nem um barranco alto para pular de cabeça e se pendurar nos cipós. Era outra sua geografia.


Este moleque travesso corria pelos morros das grutas e se fortalecia na fé e na devoção dos piedosos nordestinos, peregrinos e retirantes, em busca de um mundo novo, mas carregando, na bagagem, a esperança. Muitos pensavam em correr no mundo, conquistar seus direitos e fugir das situações que os faziam sofrer.

A cidade do Juca tem histórias acumuladas de várias gerações. Gente de bem, pobres e ricos que trafegavam no lombo de jumento até chegar nas grutas para rezar e sentir a consolacão da fé. Vinham de longe, de lugares afastados e esquecidos.


Hoje, é um Santuário que, em 1691, garimpeiros das Minas Gerais, frequentavam as grutas para descanso e por lá, colocaram as pinturas de Jesus Crucificado e de Nossa Senhora da Soledade, benfeitora de algum espanhol católico. Esse início devocional aconteceu durante o ciclo do ouro, que, desde então, deu início às romarias, seguindo o correr dos anos, até hoje como santa e movimentada tradição.


Tornou sendo um dos santuários mais conhecidos e relevantes do Brasil. Entretanto, a história que o compadre Juca me conta é mais sobre os que de lá saíram, carregando a fé e a devoção, como ele.


Embora o lugarejo tenha crescido como instância de doentes, idosos e desterrados, um padre fundou um tipo de hospital, onde acolhia muita gente que precisava de consolação. Daí, o nome que aparece na Imagem primitiva de Nossa Senhora da Soledade, como mãe, que sente em sua pele a solidão e o abandono da humanidade, com a morte de seu Filho Jesus.


Com toda essa inspiração, meu amigo Magal deixa seu apelido "Juca das Grutas" e sai para servir o exército no Rio de Janeiro, bem longe dali. Incorporou, ouviu muitas promessas de ascenção de carreira militar, mas decepcionado com as promessas, embora fosse um bom e paciente mecânico dos veículos antigos, saiu para ganhar a vida em outras cidades. Num vai e vem de procuras, acabou voltando para seu torrão nativo das velhas grutas.


Ainda não me contou como perdera a visão de um olho, mas me contou do tio que se tornou padre e chegou na sua cidade e viveu fazendo o bem. Magal tentou ganh,ar alguma pequena propriedade para cultivar a terra, mas o tio deixou para doar a ele mais na frente. E nada. O velho tio, num ato de distração, depois de rezar em casa, deixou que a vela acesa, deixada perto de um latão de gasolina, incendiasse a casa e queimado-o muito. Levado para Brasília, faleceu antes de chegar no hospital.


Essa tragédia é contada com tristeza. E o pior, ainda, foi que os herdeiros do tio, que não tivera filhos, esqueceram de repassar um pedaço de chão para o sobrinho Magal. Foi aí que tomou o rumo do Amazonas e veio para Manaus, até envelhecer e chegar aos 80 anos.


No Natal de 2023, retomou a devoção de Nossa Senhora da Solidão para rebater a tristeza e o abandono da família, porque não sabe por onde anda. Ficou na memória deste amigo idoso, os gritos felizes da infância, tempo que entrava numa gruta e saía noutra, escondia-se atrás das pedras e escalava, de cócoras, cavernas para encontrar seus amigos crianças com quem brincava.


Dizem por aí que não devemos matar a criança que vive em nós, e quem não a despertou quando estava na força da idade adulta, terá, na velhice, a última chance como consolo da solidão.


Ao ouvir essa história que registrei para ele sentiu seu passado como benção e gratidão a Deus, junto aos amigos da mesma idade.


Obs, A foto do menino da canoa é de Gisele Alfaia, que me cedeu gratuita e generosamente.

@giselealfaia



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