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CHICO DO ANDIRÁ COM CHEIRO DE PAU-ROSA E DE GRAXA

As Barreiras do Andirá no Município de Barreirinha, AM, eram uma vila de casas com moradores que contemplavam o rio e sonhavam com as distâncias nas corredeiras da vida. No barranco alto, de terra vermelha, um garoto brincava de escorregar descendo até o rio. Outra diversão era tirar látex dos troncos das seringueiras, próximas da casa e fazer bolas de futebol.


Navegar era preciso, deixar um pouco o paraíso das águas, no meio do Estado do Amazonas, e correr do lugar porque se fazia necessário estudar em outra cidade. Bastaram boas remadas de canoa que o levaram para começar os estudos aos 10 anos. Não se passaram nem 8 anos para vir a Manaus e iniciar sua vida de trabalhador.


Muito alegre e esperto, corajoso e confiável, foi escolhido por um amigo do pai para ser o capataz de uma turma de homens numa usina de destilação de pau-rosa, com o nome científico "Aniba rosaseaodora".


Dizem os entendidos românticos que o odor de quem trabalha com essa planta, com odor de rosa, tem um poder atrativo para lindas duradouras mulheres. Vivia cheiroso afastando mosquitos e atraindo abelhas. Deixa para lá essa crendice, pois o meu Chico do Andirá está idoso com sua atraída mulher, que, desde cedo, vive com ela há mais de 60 anos. Ela foi companheira de trajetória a partir dos 25 anos. Porém, antes de casar, seu destino foi deixar os estudos e embrenhar-se nas terras do Rio Tapajós, PA.


Aos 18 anos, já liderava uma turma de homens sem família e fugitivos por terem participado de homicídios. Era o que ouvia deles, certamente, para criar um clima de medo naquele rapaz responsável pelo corte e pela destilaria do óleo perfumado. O Chico não precisou ser amansado, porque era delicado e de boa conversa. Os homens o respeitavam e nem olhavam para o "pau de fogo" que trazia na cintura. Importava era a derrubada do pau- rosa, que inebriava a todos de perfume francês, ainda na fonte produtiva. Viveu uns anos pacíficos, mas abandonou a função, passando a ser responsável por um barco de passageiros que navegava entre Manaus e Santarém. Dizem que os donos das terras e do barco tinham tanta confiança nele que, durante uns 10 anos, era o piloto do barco, ocupando-se apenas nas atracações nos portos. Uma arte e técnica que aprendera observando o movimento das águas em rebojo e as corredeiras malucas entre pedras.


Como tinha casado e deixava a mulher em Manaus, um amigo lhe soprou que podia se tornar candidato a marido traído. Não por isso mas por amor, deixou a vida de embarcadiço, sentiu saudade de Barreirinha. Sua vida não podia parar, precisando descobrir novas possibilidades de viver e de criar seus filhos.


Em Manaus, empregou-se nas fábricas de bicicleta e sua mulher na casa de uma família, trabalhando com os patrões até morrerrem. Os filhos dos patrões, longe de Manaus, prometeram doar a casa em troca da indenização trabalhista, onde até hoje esse casal heróico ainda mora.


Da fábrica de bicicletas Caloi, que lhe deu muita experiência, conseguiu o emprego na Moto Honda quando esta chegou a Manaus. A experiência de embarcadiço e de mecânico curioso e aprendiz deram-lhe uma boa pontuação para trabalhar como auxiliar de manutenção durante mais de 30 anos, até aposentar.


O Chico me contou que, durante uns poucos anos, foi cozinheiro e muito mais, no restaurante de seus patrões no município das cachoeiras de Presidente Figueredo, AM, quando se tornava um roteiro de passeio dos manauaras, em finais de semana. Enfim Manaus, refrescante e idílica, como documentaram os ingleses no começo do século XX, por causa dos igarapés que cortavam a cidade. Estes mananciais de água doce já não existem mais. O igarapé do Mindu, as cachoeiras da Ponte da Bolívia e do Tarumã ficaram na saudade e na memória daqueles que testemunharam a degradação do crescimento desordenado da cidade desde os anos 60, quando começou a Zona Franca de Manaus.


Agora o velho Chico ainda sonha em montar sua vendinha de salgados para rebater a sua vida que fora doce e cheirosa desde o tempo em que vivia perfumado de onde tirava o pau-rosa. A vida deste homem nos situa na passagem da 2ª carta de São Paulo aos Coríntios:


"Mas graças a Deus, que sempre nos conduz vitoriosamente em Cristo e por nosso intermédio exala em todo lugar a fragrância do seu conhecimento; porque para Deus somos o bom perfume de Cristo” 2 Co.2.14,15a).



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