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O MURO DE PEDRA E A PONTE COMO NEGAÇÃO DA AMIZADE.


Este título foi inspiração de um idoso cujo nome esqueci. Faz anos que o encontrei no fundo de um quintal que tinha um muro alto, coberto de vegetação ao lado de uma gigante mangueira. Havia somente a sombra e o verde que servia de consolação. Até hoje me pergunto por que aquela mangueira, cheia de galhos, não quebrara aquele muro com suas raízes, mostrando-se parceira para a fuga do velhinho. Atrás da casa, antes do muro, passava um canal de água suja que o impedia de voltar para a casa quando desse vontade. A ponte era uma prancha de madeira pesada, provavelmente da casca meio furada de um tronco de maçaranduba. A dona da casa, desalmada que era, colocava a prancha para ele passar pela manhã e no final da tarde, para que seu tio caminhasse para a rede, no quartinho escuro da casa.


Fui atrás da história passada desse homem e de saber de algo daquela sobrinha malvada. De conhecer a sobrinha recordo bem que não tive sucesso, mas do idoso soube coisas extraordinárias do tempo em que vivia pela beirada do rio, numa comunidade perto da boca do Rio Badajós, num município distante daqui.


Fora presidente da comunidade, dirigente da oração dominical e organizador de mutirões no plantio, corte e secagem da juta, numa baixa de várzea que todos se consideravam donos. Construíra com seus companheiros um salão onde o padre e pastor passavam de vez em quando, usando o mesmo salão. O público que rezava era o mesmo. Havia fidelidade na oração aos domingos, que reunia catóicos e protestantes. Até hoje, não sei qual era o milagre daquela experiência de amizade social entre diferentes.


Pelas vezes que conversei com o idoso, preso entre o muro de pedra e o canal de água suja, fui desvendado o mistério da unidiade do povo, sem levar a sério as diferenças, que não chegavam a ser divergências e nem tampouco motivo de inimizadaes. O segredo foi sendo desvendado enquanto o velhinho falava da proteção do lago que todos faziam contra as empresas dos barcos de pesca e ainda mais do acordo estabelecido de que naquela comunidade não se plantaria maconha para não atrapalhar a vida dos jovens das famílias. A cachacinha era liberada, com a atenção e aconselhamento para quem exagerasse.


Depois de uma grande enchente, que chegou velozmente, os mutirões para cortar a juta e mergulhá-la a fim de arrancar a fibra precisou de uma esforço redobrado de trabalho, tanto assim que os companheiros trabalhavam do nascer ao pôr do sol para salvar o plantio. Aconteceu que, no final de um dia, um peixe elétrico deu um choque atingindo três de seus companheiros. Um deles chegou a falecer de coração para a tristeza e desânimo de quase todos. A experiência comunitária finalizava. E a vontade de vir para a cidade chegou como solução para alguns daquele lugar.



O idoso que contou essa história lacrimejando, olhava para o muro e para a ponte, dizendo que preferia ter morrido no lugar do companheiro. Não suportava mais sofrer e se sentir preso nas garras de sua sobrinha.


Nunca pensei que essa experiência fosse reminiscência da minha memória perdida, mas me situa e me faz refletir sobre a exigência de que precisamos derrubar os muros que nos separam e construir pontes que nos aproximam.


Para o idoso, o muro e ponte tiveram a mesma determinação de separar. Triste fim à espera da intervenção dos cristãos que aderem à prática libertadora de Jesus.


A Campanha da Fraternidade 2024 com o lema "FRATERNIDADE E AMIZADE SOCIAL", que consta num texto-base, diante de uma quadro de negação de direitos, acima descrito, traríamos, em retrospectiva, a vontade de agir para libertar o AMIGO da situação opressora em que se encontrava. Mas do que nunca teríamos a decisão de libertá-lo das mãos de sua sobrinha, seja aplicando o Estatuto da Pessoa Idosa, seja procurando um parente para acolhê-lo. :


"A Amizade Social é uma categoria que se enquandra no âmbito da fraternidade, da prática comprometida da solidariedade e de uma ativa compaixão" (Papa Francisco). Qual será o nosso gesto de amizade social diante dos idosos e dos deficientes físicos que ainda estão invisibilizados em nossas cidades?



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